Palestra no Hospital Moinhos de Vento celebra os 500 anos da Reforma Luterana

Professor em História da Igreja apresentou os impactos das ideias de Martin Lutero na teologia e na sociedade contemporânea

10/08/2017

Foto: Leonardo Lenskij
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A caminhada existencial e ministerial do reformador Martin Lutero e o impacto de sua atuação e obra teológica na sociedade medieval e contemporânea foram destacados em palestra realizada no Hospital Moinhos de Vento. O doutor em História da Igreja Martin Norberto Dreher mostrou como os conceitos luteranos continuam fortemente presentes nos dias de hoje.

Na abertura do evento 500 anos da Reforma Luterana – o Hospital Moinhos de Vento e as transformações históricas, o superintendente executivo da instituição, Mohamed Parrini, lembrou o vínculo histórico com a Igreja Luterana.
– Esse vínculo tem uma relação direta com os imigrantes alemães que trouxeram valores humanísticos, como o trabalho, o esforço, a busca contínua pelo conhecimento, a família, a honestidade e a fraternidade. Uma das maiores representações desses valores são as Schwestern. Com sua expressiva atuação ao longo da nossa jornada, colaboraram muito com o que somos hoje – afirmou Mohamed.

Superintendente assistencial, Vania Röhsig também destacou a ligação do Hospital Moinhos de Vento com os princípios luteranos.
– Este hospital nasceu do desejo da comunidade alemã de ter em nossa cidade um hospital com as mesmas características encontradas em hospitais de sua terra natal: organização, cuidado assistencial de excelência e limpeza. Somos gratos às Schwestern luteranas que trouxeram consigo esses valores, que também estão expressos em nosso planejamento estratégico – afirmou Vania.

Na apresentação realizada para uma atenta plateia no Anfiteatro Schwester Hilda Sturm na quinta-feira (10), Martin Dreher, pastor ordenado da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, disse que Lutero, quando era professor universitário na cidade de Wittenberg, atual Alemanha, começou a fazer questionamentos sobre a forma de agir da Igreja da época. Monge da ordem agostiniana, ele entendia não ser correta a prática das indulgências – substituição de penas impostas pelo sacerdote, depois da confissão, pelo pagamento de valores.
– A igreja medieval havia transformado a indulgência num grande negócio ao inventar as cartas de crédito do mundo moderno. Quem as comprava evitava que terminasse seus dias no purgatório e iria para o céu. O questionamento de Lutero provocou uma revolução na Europa central – observou o pastor.

Os monges dominicanos, disse Martin Dreher, eram os encarregados de negociar as indulgências de São Pedro, dinheiro que seria utilizado pelo papa Leão X para construir a Basílica de São Pedro, em Roma.
– Lutero perguntava se era válido fazer remissão das penas impostas no confessionário para tornar uma pessoa justa perante Deus – acrescentou o palestrante.

Como resultado de suas ideias, Lutero afixou 95 teses na porta da Igreja da Wittenberg, em 31 de outubro de 1517. Os sacerdotes dominicanos o denunciaram por suspeita de heresia. Mas os humanistas o aplaudiram. Da mesma forma comerciantes e artesões aprovaram, porque, sem o pagamento de indulgências, o dinheiro tenderia a ficar na Alemanha e não iria para Roma. Ainda conforme o pastor, Lutero passou a ensinar que Deus aceita a pessoa como ela é:
– Isso é graça. Isso é gratuidade. A reforma luterana parte da liberdade de aceitação.

Também de acordo com as orientações de Lutero, não seria mais necessário se retirar da vida e ir para um mosteiro para falar com Deus. Em razão disso, os mosteiros, que cuidavam de peregrinos e doentes, começaram a deixar de fazer isso.

Conforme o pastor, a contrarreforma católica viu na enfermagem uma tarefa do cristianismo. Na reforma calvinista, que começou na Suíça uma geração após Lutero, foi criado o ministério das diaconisas. Os calvinistas procuraram, com isso, dar espaço para a mulher, que passa a cuidar de doentes. Lutero acentua essa atenção aos enfermos e ainda a valorização da educação, comentou o pastor.

A partir dessas ideias, Martin Dreher começou a destacar na palestra os efeitos dos princípios luteranos na sociedade. Entre eles, na Alemanha, no século 19, o casal Theodor e Friederike Fliedner inicia o movimento das diaconisas luteranas. Elas cuidam de crianças e depois se dedicam aos doentes. No Brasil, a primeira Casa Matriz (Mutterhaus) foi inaugurada em 1939, em São Leopoldo, mas o seu principal campo de atividade era no Hospital Moinhos de Vento, onde nasceu o primeiro curso de alta enfermagem no país. A primeira diaconisa evangélica brasileira foi a irmã Sophie Zink. Filha de imigrantes alemães, nasceu em Rio Claro (SP) em 10 de agosto de 1881. Depois de estudar enfermagem, tornou-se a primeira diretora do Hospital Alemão, denominação original do Hospital Moinhos de Vento.

Após a palestra foi realizado um debate sobre a reforma luterana. René Ernaini Gertz, historiador, professor universitário e doutor em Ciência Política, lembrou que os luteranos trouxeram para o Estado o conceito hoje conhecido como ONG e o cooperativismo. Também destacou que das escolas luteranas os alunos saíam preparados para serem aprovados em qualquer curso no vestibular.

Everson Oppermann, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha no Rio Grande do Sul, informou que as empresas de origem alemã instaladas no Estado geram 250 mil empregos e são responsáveis por 10% do PIB industrial gaúcho. Oppermann, mestre em Teologia pela Faculdades EST, de São Leopoldo, acrescentou que as organizações são conhecidas pela ética empresarial e que buscam beneficiar a comunidade. Como exemplo desse modelo adotado por outras instituições, citou o Hospital Restinga e Extremo-Sul (HRES), que tem o Hospital Moinhos de Vento entre os seus gestores.


 

COMUNICAÇÃO
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É totalmente insuportável que em uma Igreja cristã um queira ser superior aos outros.
Martim Lutero
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