Jornal Evangélico Luterano

Ano 2018 | número 819

Sexta-feira, 29 de Março de 2024

Porto Alegre / RS - 03:24

Unidade

Eu sou o SENHOR, teu Deus

É duro tanto ter que caminhar E dar muito mais do que receber. Zé Ramalho

Profeticamente, a IECLB se propôs a estudar e refletir sobre Igreja, Economia e Política no ano em que vivemos um caos na política e na ordem, em esferas nacionais, estaduais e municipais. Essa decisão é decorrente do fato da Igreja estar onde o povo está, celebrando, orando, convivendo, labutando, ensinando e, do mesmo modo, lamentando e lutando contra a injustiça, o caos e o pecado que transfiguram a face de Deus na realidade e afasta o Evangelho das pessoas.

Jesus veio à nossa vida para que tivéssemos vida em abundância, para que a graça e a justiça florescessem. Entretanto, vivemos em realidades nas quais a graça é subvertida e vendida por interesses, privilégios e desejo de poder e riqueza. A justiça está desacreditada, infelizmente...

No final da Idade Média, ocorreu um movimento que discutiu, refletiu e transformou a realidade, que estava igualmente marcada pela injustiça e pela corrupção. Mediante o questionamento da Indulgência, do poder absoluto do Papa, Lutero e os demais Reformadores redescobriram o Evangelho e a justificação por graça e fé: um novo tempo e uma nova organização floresceram.

Lutero destaca a Política como meio para a resolução de conflitos, baseada na ética e na justiça, considerando as necessidades do povo, com líderes e governantes honestos e que sirvam à população com a sua função.

Conforme o Caderno de Estudos do Tema 2018, Lutero concebia as Ordens como três funções essenciais na organização social. A Economia tem a função de alimentar, provendo o sustento e o desenvolvimento da sociedade. A Igreja tem a tarefa de ensinar, promovendo a educação básica, científica e religiosa das pessoas, meninos e meninas, nobres e pobres. A Política tem como finalidade proteger, fomentando a organização em paz e harmonia da vida em sociedade.

Para refletirmos sobre a Política como ordem e proteção, necessitamos entender a concepção de Lutero referente aos dois Reinos e à cristandade. A sua compreensão de sociedade baseavase na Monarquia e caracterizava-se como Mundo Cristão, pois a religião cristã dava sentido e sustentação à vida social. A Política surge como um remédio para a doença do caos social motivado pelo pecado e pela queda. Assim, para a organização de paz e da ordem na sociedade, a Política era necessária como Ordem mantenedora da vida social.

A concepção dos dois Reinos de Lutero, conforme Marc Lienhard (1998), destaca que o Reinado secular, o Estado, era composto pela organização social na natureza, família, ciência, artes e política. O Reinado espiritual era composto pela Igreja, exercida pelo Sacerdócio Universal, os Ministério e os Sacramentos. Desta maneira, Deus atua nos dois Reinados, como criador e mantenedor da Criação no secular e como salvador e santificador no espiritual. O cristão está inserido nos dois Reinos, mas é a fé que orienta o seu agir em toda a sua existência.

Referente ao papel do Estado e do exercício da Política na promoção da ordem e no combate à corrupção, Lutero apresenta o seu posicionamento no Salmo 101.3-5: Não porei coisa injusta diante dos meus olhos; aborreço o proceder dos que se desviam; nada disto se me pegará. Longe de mim o coração perverso; não quero conhecer o mal. Ao que às ocultas calunia o próximo, a esse destruirei; o que tem olhar altivo e coração soberbo, não o suportarei.

‘Pela interpretação do Salmo, quis mostrar aos governantes a sua verdadeira imagem como em um espelho. Provavelmente, pretendeu dar, de maneira indireta, ao novo príncipe, alguma orientação para o exercício do seu cargo. Destacou as virtudes e os feitos dos bons governantes. Criticou a corrupção, que, muitas vezes, toma conta das pessoas que lidam com poder’ (Joachim Fischer,1996, OS).

Não podemos ser omissos à injustiça e à corrupção dos partidos e às causas que os nossos representantes defendem por estarem filiados a este ou àquele partido, pois a nossa vivência de fé nos chama a sermos proclamadores do Evangelho.

No Salmo 101, Lutero encontra exortações para o exercício da Política, destacando aos líderes e governantes a importância da honestidade, o cuidado com as necessidades do povo, a fidelidade como exercício da função e, principalmente, que a liderança política é um serviço a Deus. Igualmente, adverte sobre a falsidade, a injustiça e a perversidade como causas da degradação da vida social. A corrupção não passará impune.

Desta maneira, Martim Lutero destaca a Política como meio necessário para resolução de conflitos, baseada na ética e na justiça, considerando as necessidades do povo para uma organização social em paz. Os líderes e os governantes necessitam ser honestos e servir à população com a sua função. Quando o Governo não for justo e honesto e a injustiça e a corrupção prevalecerem, a sociedade ruirá e o povo passará por sofrimento.

Necessitamos analisar a nossa realidade atual e o papel político dos evangélico-luteranos na construção de uma sociedade digna e justa, como também no combate à corrupção. Precisamos pensar sobre o papel que desempenhamos em nossas cidades? O que estamos testemunhando e transformando como membros de Cristo na terra, herdeiros da Reforma Protestante? Estamos sendo Evangelho na terra em que vivemos e com as pessoas com as quais convivemos? A nossa atuação como Igreja torna as nossas cidades e o Estado melhores de viver, com governos justos e preocupados com as causas da população, proporcionando atendimento de qualidade na saúde, na educação e no meio ambiente? Quando a vida é degradada e a injustiça e a corrupção proliferam como a relva na terra, estamos sendo voz profética e crítica?

Assim, compete às Comunidades a escolha de representantes políticos e autoridades íntegras. No Catecismo Maior, Lutero enfatiza: ‘Precisamos de autoridades que tenham olhos e ânimos para instaurar e manter a ordem em todos os negócios e nas transações comerciais, para que os pobres não sejam sobrecarregados e oprimidos. Portanto, temos o dever de escolher bem os nossos representantes, analisando que causa política e partidária representam, qual o vínculo que eles têm com a Comunidade e as suas necessidades e, fundamentalmente, se são íntegros e honestos, ou seja, ‘ficha limpa’.

Precisamos repensar a ideia de votar na pessoa sem considerar o seu partido, pois a organização política se desenvolve mediante a filiação partidária. Sendo assim, as vontades e as identidades pessoais são diluídas nas causas e nas ideologias dos partidos. Não podemos ser omissos, ingênuos e indiferentes à injustiça e à corrupção dos partidos e às causas que os nossos representantes defendem por estarem filiados a este ou àquele partido, pois a nossa vivência de fé nos chama a sermos proclamadores do Evangelho.

Além disso, compete à Comunidade ser exemplo de liderança e gestão para a sociedade na administração dos seus recursos e bens, não cometendo desvios e injustiças. Isto corresponde a destinar as coletas devidamente, repassar o dízimo fielmente e ser solidária com as necessidades da Comunidade e sociedade em geral.

Outro papel da Comunidade diante da Política refere-se à educação, pois ela é um serviço que a Comunidade presta à sociedade, formando pessoas capazes de escolher os seus representantes e de colocar-se à disposição para servir o povo com atuação política.

Lutero considerava a escola um instrumento precioso para organizar uma sociedade de pessoas livres. Dizia Lutero: ‘Diariamente nascem crianças e crescem desordenadamente, mas não há quem se dedique à juventude e lhe dê formação. Como Comunidade, temos a missão de estar envolvidos na educação de nossas cidades, auxiliando, fiscalizando e investindo’.

Em seu escrito Aos conselhos de todas as cidades da Alemanha para que criem e mantenham escolas cristãs, de 1524, Lutero escreve: ‘Será da competência do conselho e das autoridades dedicarem o maior cuidado e o máximo empenho à juventude... Agora, o progresso de uma cidade não depende apenas do acúmulo de grandes tesouros, da construção de muros de fortificação, de casas bonitas, de muitos canhões e da fabricação de muitas armaduras. Muito antes, o melhor e mais rico progresso para uma cidade é quando possui muitos homens bem instruídos, muitos cidadãos ajuizados, honestos e bem educados’. Igualmente destaca que ‘se alguém der um ducado para a guerra [...], seria justo que se doasse cem ducados para a educação’.

Lutero enfatiza que a Comunidade necessita investir em educação e desejava que, ao lado de cada Igreja, houvesse uma escola. Infelizmente, em grande parte das nossas Comunidades, foi esquecido este importantíssimo serviço que temos com a sociedade mediante a educação.

Um país melhor se faz com pessoas educadas, capazes de organizar a sociedade com dignidade e paz. O nosso papel, como Igreja e Comunidade, é educar as pessoas, para que se desenvolvam e tornem-se Evangelho nos locais em que vivem e transitam! 

P. Olmiro Ribeiro Júnior, Vice-Diretor do Centro Tecnológico Frederico Jorge Logemann, em Horizontina/RS

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