Lutero - Reforma: 500 anos
Como pregarão se não forem enviados? Como está escrito: quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas. Romanos 10.16
Os tempos atuais trazem em seu arcabouço a preocupação de muitas mudanças, tanto de costumes, modelos familiares, recursos tecnológicos, avanço da Medicina e uma exposição muito grande da vida e da intimidade. Tudo isso acarreta um grau extra de desafio e dificuldade, bem como de oportunidade e comprometimento. Anunciar as coisas boas, sobre as quais fala o Apóstolo Paulo aos Romanos, traz a oportunidade de cores especiais no contexto da IECLB.
O exercício do Ministério com Ordenação deve ser desempenhado com seriedade máxima, com o esmero profissional que envolve um chamado, uma resposta pessoal a Deus, formação, estudo e oração. |
Somos pessoas formadas no convívio social, recebendo influência da escola, da família, dos meios de comunicação, dos grupos e das organizações. Somos, portanto, passíveis de influência, mas também capazes de influenciar. Recebemos e formamos opiniões, que não são – e não podem ser vistas como – absolutas nem onipotentes.
A Igreja, os seus Ministros e as suas Ministras vivem em meio à diversidade e devem saber se posicionar nesse contexto. Os nossos pontos de vista individuais precisam ser olhados com cuidado. Como Ministros e Ministras, temos a responsabilidade de nortear os nossos membros com o ensinamento e o testemunho do Evangelho. Isso não pode ser sobreposto por entendimentos individuais em flagrante confronto com a verdade do Evangelho, as leis que regem a Nação e as regras de convivência e de conduta social.
O Estatuto do Ministério com Ordenação da IECLB (EMO) apregoa a sublime necessidade de preparar e acompanhar as pessoas que Deus chama para a sua Seara, para que estas possam dedicar-se, muitas vezes, exclusivamente, à edificação de Comunidades, à pregação e ao ensino público, alicerçadas pelo Evangelho e nas bases confessionais desta Igreja, esforçando-se para que a pessoa certa encontre o lugar certo para exercer a sua vocação e o seu chamado.
O exercício do Ministério com Ordenação deve ser desempenhado com seriedade máxima, com o esmero profissional que envolve um chamado, uma resposta pessoal a Deus, formação, estudo e oração. Crises e dificuldades oriundas da grandeza desta vocação também são pessoais, podendo ser divididas com os seus pares e Orientadores, Orientadoras, Mentores ou Mentoras Espirituais. É a pessoa que responde a Deus e ao chamado. A Igreja capacita, envia e acompanha. A Comunidade é a detentora do Ministério Eclesiástico, que recebeu das mãos de Deus e delega a uma pessoa vocacionada e preparada para o exercício da Proclamação da Palavra e reta Administração dos Sacramentos.
Tudo isso é grande e exige entrega de corpo, mente e coração! Também entrega de tempo, dons e recursos que Deus nos dá para empregar no cuidado, na admoestação e no consolo do rebanho! É necessário haver liberalidade e disponibilidade para servir. Será, então, que não somos demasiadamente humanos para responder a tão grande chamado e demanda? Será possível responder às expectativas postas sobre os nossos ombros? O que os nossos membros esperam de nós? Como estabelecer alguns limites que visam ao cuidado pessoal e também permitem o cuidado da família? Estar disponível ‘24 horas por dia’ para emergências e realizar sepultamentos no dia de folga não deveria deixar de ser uma exceção a uma regra que garante e valoriza o descanso semanal. Isso é de conhecimento do Presbitério, que, inclusive, tem a função de admoestar Ministros e Ministras que não se permitem desfrutar da sua folga.
Temos muito a aprender sobre ser Igreja da Reforma nestes conturbados e maravilhosos tempos, nos quais o novo irrompe sem pedir licença, nos desafi ando a trilhar novos caminhos com o mesmo Deus: bom, justo e fiel. |
Possivelmente, os membros das nossas Comunidades têm a expectativa que a sua liderança espiritual externe a sua vocação, a sua vida de fé, a sua vida familiar exemplar, seja confiável, transparente, responsável e que inspire as demais famílias da Comunidade a viver evangelicamente. Não será uma carga grande demais para um ser humano com limitações, medos, angústias, erros e inseguranças? Até onde podemos servir de exemplo inquebrantável para a Comunidade? Somos modelo e exemplo, queiramos ou não, sejamos Ministros, Ministras ou não. É bem verdade que também se espera que os membros assim procedam e vivam irmanados e solidários, humildes e cientes da fragilidade das suas próprias famílias. Devemos elevar os olhos para os montes e buscar socorro naquele que fez os céus e a terra, naquele que não nos deixa cair, mas nos sustenta com a sua bondosa mão.
Para os Ministros e as Ministras, as famílias comunitárias servem de exemplo, arrimo e apoio espiritual. É com estas famílias que se caminha em conjunto e que se cresce na fé, na tolerância e no perdão. Busca-se a edificação de pessoas e de Comunidades. Todas as famílias e pessoas enfrentam dores, perdas e adversidades, sejam elas Ministras Ordenadas ou não. Evangelicamente, devemos viver e primar por uma Comunidade viva e dinâmica, que separa serviços e funções de acordo com dons e vocações, sem, com isso, exigir mais de algumas pessoas que de outras.
Tanto membros quanto Ministros e Ministras devem procurar ajuda para resolver os seus problemas familiares e matrimonias e assim também servirem de exemplo. Famílias de Ministros e Ministras enfrentam perdas, enfermidades, alcoolismo, opções equivocadas de filhos e filhas, divórcios, separações e precisam responder a isso da maneira mais adequada possível, tendo a humildade de permitir que colegas, irmãos e irmãs orem por elas, que Psicólogos, Psicólogas possam ajudar e que grupos de ajuda possam dar novas balizas e ser instrumentos de Deus neste mundo. De forma alguma, isso demonstra fracasso, mas, isso sim, humildade em reconhecer as fraquezas inerentes ao ser humano e a grandeza na busca por ajuda. Que esta postura não diminua o Ministério, mas permita que ele se encarne na realidade e seja testemunho de superação.
A Comunidade é uma família ampliada. Somos família de Deus e, embora defendamos os valores evangélicos, paradoxalmente, encontramos dificuldades de vivê-los em sua radicalidade. Como família cristã ampliada, experimentamos as contradições das pequenas famílias que a compõem. Pregamos e cremos na comunhão, na aceitação, na tolerância e, ao mesmo tempo, discriminamos, excluímos e exigimos o que nem mesmo nós podemos dar. Projetamos na família do Ministro, da Ministra e na família comunitária o ideal, a perfeição e a indissolubilidade, que estão longe da realidade que experimentamos.
Aprendemos de Jesus que, para sermos a sua família, devemos fazer a sua vontade: Nisto, chegaram sua mãe e seus irmãos e, tendo ficado do lado de fora, mandaram chamá-lo. Muita gente estava assentada ao redor dele e lhe disse: Olha, tua mãe, teus irmãos e irmãs estão lá fora à tua procura. Então, ele lhes respondeu, dizendo: Quem são minha mãe e meus irmãos? Correndo o olhar pelos que estavam assentados ao redor, disse: Eis minha mãe e meus irmãos. Portanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, este é meu irmão, irm ã e mãe (Mc 3. 31-35).
São tantos motivos para agradecer e reconhecer a grandeza da vida comunitária que se impõe nas correrias do mundo moderno, da fé humilde que se põe a serviço na contramão do mundo que descarta não somente coisas, mas também pessoas. Temos muito para aprender quando caímos na tentação de seguirmos os nossos próprios pensamentos e não os pensamentos de Deus. Temos muito a aprender sobre ser Igreja da Reforma nestes conturbados e maravilhosos tempos, nos quais o novo irrompe sem pedir licença, nos desafi ando a trilhar novos caminhos com o mesmo Deus: bom, justo, fiel e que reina de eternidade a eternidade, por isso Alegres, jubilai! Igreja sempre em Reforma: agora são outros 500!
Pa. Vera Maria Immich, Pastora e Psicóloga, é Ministra na Pastoral e na Comunidade da Consolação, em Curitiba/PR